segunda-feira, 1 de junho de 2009

Experiência de vida

Alguns dos moradores de rua no Centro de Campinas

Todos os dias nos deparamos com momentos, que podem mudar nossas vidas. Ás vezes, um fato para refletirmos á respeito de nossa existência nesse mundo tão desigual.

Entretanto, por conta dessa correria diária estudo, trabalho, família, preocupações... deixamos passar esses instantes, que servem para abrir nossos olhos e perceber que a vida vai muito além do que se vê.

Um dia desses estava com uma amiga no Centro da cidade de Campinas, tirando fotos para meu ensaio fotográfico: “Sobrevivendo da Rua”, que pretendo mais pra frente postar aqui.


Chegamos pela tarde, muitas pessoas pra lá e pra cá, fazendo compras, trabalhando, ou simplesmente, andando... estávamos indo embora quando percebemos uma concentração de moradores de rua nas escadarias da igreja Nossa Senhora da Conceição, em um dos degraus havia uma pequena caixa com cinzeiros feitos de latinhas de refrigerantes. Olhamos, pensamos... e paramos em frente, quando eles nos chamaram para conversar.

Pedi para tirar foto deles e do trabalho feito com as latinhas. Pronto! Começaram a falar, era um competindo com o outro não dava para distinguir quem falava mais. Todos queriam nossa atenção.

Falaram da família distante, dos motivos os quais moram na rua, e, por incrível que pareça, alguns deles dormem nas ruas de Campinas por escolha, trabalham e dizem ser felizes com a vida que levam.

Na mistura de vozes, de histórias fascinantes, fortes, sofrimento e saudade. Me emocionei quando um deles mostrou a carteira de trabalho todo feliz, com um sorriso tímido estampado na face falando:
“Olha, eu trabalho ali, naquele prédio... você ta vendo? Agora eu vou arrumar meus dentes, to trabalhando”.

Ele não tinha dentes na parte superior...

Fiquei impressionada com a inteligência e experiência de vida de um jamaicano, que veio ao Brasil há muitos anos atrás.
Ele já viveu em seis países diferentes, sabe muita coisa de todos estes países - palavras, frases de outras línguas. Ele nos perguntava e falava sobre coisas que eu nunca tinha escutado antes.
Com isso, pude perceber que a vida é a melhor escola que existe.

Outro falava de seus dons artísticos, disse para voltarmos outros dias que ele levaria seus vasos feitos de garrafas pet.

Outro falava do preconceito que o grupo sofre todos os dias. São vistos como animais sujos, não como seres humanos, que por algum motivo, ou vários, foram levados a sobreviver desta maneira.

Disputando a conversa, outro tirou da bermuda suja e furada uma foto de sua esposa e filhos. Estavam em outra cidade, começou a falar da saudade e da dor que carregava em seus dias.

Tirei fotos e fotos, todos queriam aparecer. As pessoas ao redor jogavam olhares curiosos e repulsores.

O que importa é que ficaram muito felizes com nossa presença. Eles são felizes com pouco, ás vezes, apenas com uma conversa, um momento de atenção para se sentirem outros.

São pequenas ou grandiosas as experiências colocadas em nossas vidas, dependem de como somos capazes de vê-las e senti-lás.





Larissa Alves

Um comentário:

  1. Lari,

    Que mensagem linda! Fez refletir minhas atitudes, note q ngm comentou, talvez porque viram moradores de rua e pensaram... deve ser um texto chato!É uma problema sério da nossa sociedade. Parabéns!

    Beijãoo!!

    Lêe

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